Ao comemorara o Dia das Mães, resolvi abordar esse tema de uma forma mais pessoal e reflexiva. Espero que goste.
A minha infância foi marcada por algumas experiências que já estão muito bem integradas na minha vida e sigo lidando relativamente bem com elas.
Também tenho outras tantas experiências que ainda preciso voltar-me para elas para compreender e aceitar tudo o que elas ainda querem me ensinar.
Não estou classificando essas experiências em boas ou ruins, isso seria julgamento e não tenho esta pretensão e nem teria razão para fazer.
As experiências acontecem e cada um de nós dá um significado e este significado vai perpassando pela nossa vida de alguma maneira. Portanto, as experiências podem ser potências de vida ou potências de morte.
Mas quero relatar aqui uma parte de minha infância, e esta tem a ver com a minha mãe, já que estamos comemorando o Dia das Mães. Recordo aqui da minha mãe e da comida.
A minha mãe fazia e ainda faz comidas boas, com um tempero bom, com um visual que desperta uma fome interior. Quando como essa comida ela sacia não só a fome do corpo, mas também a fome de espírito.
Pois bem, lembrando de minha mãe e das comidas, não posso deixar de lembrar que muitas vezes era visível que ela gostaria de fazer mais comidas e outros tipos de pratos para ofertar a nós filhos e, no entanto, ela não tinha os ingredientes ou não tinha tempo.
Havia sim, uma escassez que era real, afinal éramos dez pessoas para comer e ela trabalhava todos os dias para conseguir trazer o mínimo necessário para nós.
Às vezes, inclusive, ela fazia alguns doces para vender e com isso conseguir comprar mantimentos para nós ou outras coisas necessárias.
Lembro de um dia de trabalho na roça ou em casa, em que ela fazia os “rosquetes de água quente” por encomenda. Isso significava fazer em uma noite e deixar para assar no outro dia.
Depois do almoço, na hora do descanso, ela fazia a calda. Só depois disso tudo é que eles estavam prontos para a entrega.
E aí vinha algum dinheiro que, com certeza, já estava destinado para alguma urgência. Essa é uma das experiências que tenho: minha mãe produzindo, quase sem poder, alimentos, comidas, coisas gostosas.
Tenho certeza de que isso imprimiu em minha vida duas ideias muito fortes. Uma, a de fazer comidas boas e com elas conseguir alimentar tantos e a outra, de saber viver na escassez.
“Não importa o que fizeram com você, importa sim o que você faz com o que fizeram com você” (Jean Paul Sartre)
O que eu faço com essas experiências hoje na minha vida, é por minha conta. Como disse Jean Paul Sartre: “Não importa o que fizeram com você, importa sim o que você faz com o que fizeram com você”.
Somos seres de liberdade e podemos escolher sempre, inclusive com as lembranças que temos da infância.
Pois bem, hoje, quero homenagear a minha mãe com comidas gostosas e dizer que temos realizado a nossa vida fazendo comida e cuidando para alimentar aqueles que se aproximam de nós.
Algumas de suas filhas e netas fazem comida mesmo, alimentam o corpo, saciam a fome física e mantêm a sua família com isso. Com certeza já vencemos muito o sentimento de escassez.
Outras de nós, como eu, ganho a minha vida, em outro tipo de alimento, ajudando pessoas a serem melhores por meio do conhecimento e de valores importantes.
Em ambos os tipos de trabalho precisamos pensar na criatividade, no cuidado, no produzir para fazer a roda do ganhar dinheiro girar e, principalmente, fazer com que as pessoas se sintam melhores, se sintam satisfeitas.
Hoje posso dizer que toda a experiência vivida com a minha mãe valeu muito a pena! Aprendemos a lição de que comida é coisa séria e importante e que é ela que nos faz ficar vivos (as).
Hoje, temos condições de continuar a fazer coisas boas, gostosas, que permitam as pessoas viverem novas experiências e se manterem vivas, felizes. Posso dizer que você nos inspirou e nos inspira!
Mas, nem só de pão vive o homem, a mulher. Hoje, o nosso grande desafio é produzir o afeto que alimenta e cura. Assim, como minha mãe produziu tantas coisas boas para nos nutrir, temos o compromisso de seguir produzindo coisas para nutrir nosso corpo e nossa alma.
Hoje, mesmo o Instituto Kaplun fazendo o seu papel de educar e incentivar a criatividade e inovação, não podemos esquecer também dos nossos aprendizados de vida e de quem já nos ensinou e continua nos ensinando tanto, nossas mães, sejam elas de sangue ou de coração.
E você, lembra de alguma memória gostosa com a sua mãe? Quais aprendizados ela lhe passou? Se sentir à vontade comente aqui embaixo, vou adorar saber! (Prof.ª Dr.ª Janete Cardoso)
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